Vendas de cosméticos premium crescem mais do que marcas de massa
Consumidor tenta preservar ‘mimos’ durante a crise
A crise ainda não chegou ao fim, mas as empresas do setor de cosméticos já perceberam que o brasileiro não está disposto a cortar da sua cesta de compras alguns dos “mimos” aos quais se habituou na época da economia em expansão. Quando o assunto é batom, produto para pele ou cabelo, a fidelidade às marcas pesa na decisão. Levantamento da consultoria Euromonitor mostra que, em 2016, as vendas de produtos de beleza e cosméticos premium tiveram alta de 9,1%, enquanto as marcas populares registraram avanço de 4,4%. A tendência já havia começado no ano anterior, quando os itens mais sofisticados mostraram aumento de 16,6% nas vendas, e os cosméticos de massa tiveram queda de 1,3%.
A receita de expansão do setor combina dois ingredientes: o consumo das faixas de menor renda cai, o que afeta as vendas de produtos populares; e, quando o consumidor é obrigado a rever o orçamento, prevalece a autoindulgência, aquela tentativa de manter “pequenas alegrias do dia a dia” mesmo em um cenário de maior controle de gastos. Entre os cosméticos premium mais vendidos estão batons, esmaltes e produtos de cuidado com a pele, sobretudo os de proteção solar. No Brasil, de modo geral, os campeões de venda do setor de beleza são desodorantes e tratamentos para o cabelo.
“Estimamos que esse movimento de venda em ritmo mais acelerado de produtos premium deve continuar no Brasil até, ao menos, 2019, diz Alexis Frick, gerente de pesquisa da Euromonitor.
A advogada Rafaela Dialma, de 32 anos, aceita pagar o preço da fidelidade às marcas preferidas. “Compro as marcas importadas porque acho que dão mais resultado e têm melhor durabilidade. A relação custo-benefício acaba sendo mais vantajosa”, afirma.
Outros estudos corroboram as projeções da Euromonitor. Segundo a britânica Mintel Group, de todos os segmentos analisados pela consultoria, apenas cosméticos e produtos de limpeza mostram curvas de crescimento consistentes. Para o setor de cosméticos, a projeção é de alta de 10,2% ao ano até 2019, quando o mercado chegará a R$ 107,3 bilhões.
“Como batons são produtos mais baratos, assim como esmaltes, eles ainda são acessíveis em tempos difíceis e podem ser vistos por muitos como um agrado. As oportunidades de crescimento também estão nos consumidores cientes da importância de cuidar da pele e procurar itens inovadores, explica Renata Moura, analista da Mintel.
Apesar das projeções favoráveis para o segmento, o mercado de cosméticos premium no país ainda é pequeno, composto quase integralmente por produtos importados, e representa cerca de 4% do total, segundo Frick, da Euromonitor. Nos Estados Unidos, essa fatia chega a 30%, e na Coreia do Sul, a 44%. O gerente de pesquisa da Euromonitor destaca outros fatores que impulsionaram as vendas no segmento, como o fato de a maior parte dos itens ser importada e ter havido uma queda nas viagens ao exterior no ano passado: “Boa parte do consumo que era feito no exterior migrou para as lojas nacionais. Isso também ajuda nesse aumento da curva de venda dos produtos premium”.